A gastrite é um achado endoscópico muito comum, mas que gera muita confusão entre médicos e pacientes.  O que geralmente acontece? Paciente vai ao gastroenterologista queixando de dor no estômago. Médico pede endoscopia. Endoscopia vem laudada como gastrite enantemática leve de antro (ou qualquer nível de gravidade ou localização). Médico diz ao paciente que ele tem gastrite e essa é a causa dos sintomas, mas é isso mesmo?

Primeiro de tudo: gastrite é um achado que só pode ser confirmado pela biópsia e análise anatomopatológica. Gastrite significa inflamação da mucosa e a endoscopia somente infere isso ao observar achados macroscópicos como mucosa avermelhada (enantemática), edemaciada ou erodida.

Depois de confirmada gastrite, vamos procurar a causa. A principal causa é a infecção por H. pylori, mas podemos ter outras como medicamentos (anti inflamatórios), doença de Crohn, tuberculose, citomegalovírus, sífilis... São inúmeras causas que precisamos descartar juntando as peças do quadro clínico, exame físico, exames laboratoriais e achados endoscópicos.

O que acontece muitas vezes é que não achamos nenhuma causa pra gastrite e dessa maneira é um achado idiopático. Ela justifica sintomas? Na grande maioria das vezes é um achado casual. Sem relação com sintomas. Isso já foi avaliado por estudos: muitos pacientes que tem gastrite não sentem nada e outros que não tem gastrite sentem muita dor.

Se o paciente tem gastrite, dor de estômago e nenhuma causa que justifique a gastrite e os sintomas, então o diagnóstico é de dispepsia funcional e daí o eixo cérebro-trato digestivo é muito importante. 

Se o diagnóstico levou a uma causa como infecção por H. pylori, deve ser tratada. Se a investigação levou ao diagnóstico de dispepsia funcional, o tratamento deve seguir uma linha lógica e racional com o que já sabemos ser eficaz e reassegurar o paciente de que não temos como objetivo normalizar o achado de gastrite.

O esclarecimento para o paciente do que ele tem e quais são as futuras perspectivas funciona muito melhor que somente dizer que ele tem " gastrite nervosa ". 

Então, devo me preocupar com a gastrite? A preocupação deve ser com a causa e se não foi achada, a resposta é NÃO!